som de pentear
laranja dourado
rosa dourado
prata escuro
imagino qual seria o desastre capaz de preservar uma trama da sorte dos capilares, as películas-sedas, o superficial. como se o planeta e seus eventos catastróficos pudessem se responsabilizar pelo invento acidental de uma cápsula do tempo. a casca perfeita para se conservar um corpo para a idade do futuro, agindo por sobre algo durante um acontecimento meteorológico que dura meses, anos ou instante. a formação de um estojo contrário da erosão. essa mesa de trabalho atmosférica. e isso pra pensar sobre essas escavações que a gente vê longe. os acontecimentos em que se acham feitos de tesouros. essa permanência como ideal mágico que aprisiona um segredo, que rege tanta sede, ela talvez seja um intervalo robusto ao redor das entrelinhas. o corpo que estava vivo, aquilo que se vestia de ouro não se salvou, mas passou sua energia. o melhor que o tempo esconde. quem ganhou o sentido íntimo de vernissage? gostava era de contar com colares de sementes, quantos, quais florestas e como. seria adorável que a ciência contratasse alguém que pudesse equilibrar das pinturas feitas das estátuas antigas o espectro amplo do que significa cor. coroas de flores. uns louros. o sentido de biblioteca se verificando por ser difícil recordar o tom, confiar nos acentos e os seus papéis frágeis. marcar o ataque depois da fusão.

me apresso em imaginar um narciso continente, um que inspirava luz
inexata - flagrada a superfície encrespada - e que, submerso,
encontrava na resistência dum batimento de pernas a atividade afirmativa e vertical dos membros inferiores, ocultados pelo brilho do espelho que o cindia no peito. e imagino, pela minha pouca memória física a respeito dos lagos, esse moço mesmo resistindo a um rio.
e pronto escalo esse caráter doce que a água propõe ao suportar-nos,
que não se parece em nada com a morte anunciada pelo vidro ou pela lâmina.
se falseia, me insinua prazer e algas e um impulso lodoso.
e se o moço para e admira um rosto, isso se passa pelo terno presente da luz
casado com a escuridade real da fundura.
pois se já não existe maneira de fugir ao segredo desvendado ao ouvido da mãe, qual culpa existe em afirmar que esteve distante do amor antes desse encontro tão último com a flor silenciosa? e este deter do serviço da caça…
e esta ninfa anteriormente condenada, tendo seu vício camuflado
na arquitetura perfeita da pedra para a fala…

o que envolve a cena de encontro que se dá na clareira tem a sorte da sede, se insere numa urgência orgânica brava.
quando celebro esta figura, entrar em um rio e admirar-se consigo ao tomar água, percebo um dom antigo. e percebo mais a perversidade no medo da fatalidade.
esse medo não só não satisfaz a mira, como nem chega a tocar na exuberância e no esplendor de vingar-se, o que agora, concordado com o reflexivo, se poderia chamar para um corpo moço de amadurecer preciso. e isto posto, me debruço na formação de uma mata ciliar e me lembro que ela, na paisagem devastada,
se ocupa em marcar silenciosamente o caminho das nascentes.
e, por isso, se narciso ainda parece pequeno não penso que seja pelo sono da erva, ou pelo odor do lírio, mas por mostrar um engano elegante ao reflexo árido do sol, por estar desperto, por ser menor que o olho, por saber fundo e preferir a beira.
por marcar a água doce. por ser ar e cílio. por se esquecer no movimento, poeira no extremo canto da bandeira.