frisson alimentar
branco leitoso
prata claro
branco opaco
notar que a fome de certos bichos se regula pela rotina, não pela capacidade de reconhecer alimento. existe o costume do aroma, o som da indústria. o prazer rápido da saciedade. não é um sintoma distante. o hábito do relógio vencendo as horas, destronando o próprio sol. encurtando o corpo que se torna especialista em chamar para que lhe venham alimentar. tratar do ´feed´ e cercar como conveniência, não mais como numa caça. depender de um mecanismo estranho. neutralizar as texturas todas. por fim, pilhar. imagino a profundidade dessa perda se pudéssemos equacionar razoavelmente aquilo que se deixa de contemplar enquanto habilidade mágica dos bichos por permitirmos que sigam mal alimentados, desafinados em relação ao seres vivos que os circundam e com os próprios órgãos ocupados em digerir massa estéril. me preocupo menos com a nutrição propriamente, ou com harmonia, confio que ela se dará num extremo. não busco cuidar do escasso longe, mas dessa via de abundância hipocondríaca. me revolta, isso sim, o rastro do veneno que se deixa de recusar por não poder mais dosar o vício, por não saber sublinhar o gosto na celebração. os sentidos sendo assassinados pela expressão de uma dor extremamente pacífica. domesticada num equilíbrio rígido, frio. gostaria que pudéssemos reaver a natureza morta com encantos, recuperar esse imaginário, agir sobre, flexionar, refletir, comunicar. para nos lembrarmos diariamente que nada se não a vida nomeia uma casa.

eu descobri que as canções se guardam no círculo-íris do olho. um disco que nunca se repete. que, por isso, cada bicho tem sua voz. uma impressão da música sendo apresentada ao contorno da fenda que brilha como proteção. como se o próprio olho fosse o fuso e a armadura do corpo. grande vitrola. criar um tecido partitura. e se o escrito fossem flocos de papel colorido como aquelas comida para peixes?