folego / inspiração
ando separando algumas sementes das maçãs que eu como. penso em fazer uma espécie de cama para elas com o papel que estou estudando, papel roxo usado para transportar maçãs. mas não encontro logo a forma. ele combina com as cascas que sequei: a cor, a textura. penso na delicadeza dourada do creme de laranja que vai na torta de maçã. me pego tentando puxar de todas as experiências que tive alguma que brilhe. e daí fazer a cama. tem já um tempo que fiz uma foto: algumas sementes juntas com pedacinhos de fio de cobre cortados. fundo branco. acho bonita essa combinação, mas implico com o simbolismo dos materiais e com a assepsia da composição. eu só não quero reivindicar nada que já não reconheça como assunto meu. o pior é que talvez nunca chegasse a esse encontro sem passar assim do lado do óbvio. frisar uma frequência extrema, artificial e humana para poder no fim dizer é que é bonita a diferença de castanhos. os brilhos e os formatos dos corpos e que um seja mais quente e outro um pouco mais frio e que isso mude ao toque. esse marrom, esse esverdeado. o efeito da umidade, a noção de energia.
troco de tema, de problema, mas ainda me sinto impressionado pela experiência com as sementes de uva no natal há quatro anos. ter pensado sobre escultura quando mexemos a língua arrancando a semente de uma uva, a frequência e perfeição a que chegamos quando encaramos um cacho... a experiência da semente de maçã é diferente por que a gente não chupa uma maçã. por que existe uma cave, uma cela. muito particular. penso nas flores e naquele poema, pêssegos, pêras, morangos: “all rosacea”. mas cuspir a semente fora, o inoportuno maravilhoso. essa sensualidade precária. e o fruto como grande bolha, parece um pouco com os citros, pelas garrafas, mas difere. vou pras cerejas no meu aniversário há ainda mais tempo. eu corria o risco de tomar juízo cedo, mas ganhei foi de um estrangeiro uma receita maravilhosa com banana. e levava gergelim. sésamo em espanhol. me lembro do escorpião do ritual budista, mas naquele caso era uma pasta. usar um molde ou optar pelo disforme? que bonito isso...
mover pela necessidade sempre se parece mais justo
uso o tempo para
me ligar a outro tipo
de nutrição